Conto: A mulher do pênis

 AA MULHER DO PÊNIS

Por Olavo Nascimento (20/10/2019)
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"GOSTEI DE TI, ANTÔNIO. TELEFONE: XXXX-XXXX."

Cris recebeu o recadinho do garçom, direcionou o seu olhar para quem o mensageiro indicara e guardou o recado sem dar qualquer pista para o remetente. Não que ela não tenha se interessado por ele, muito pelo contrário. Ela andava ansiosa por uma oportunidade dessas para aumentar a sua lista de crimes. E para praticar os seus crimes, ela seguia um ritual, como não mostrar qualquer interesse à próxima vítima e maquinar com calma o seu plano de assassinato. Por isso, evitou retornar àquele restaurante e deixou passar uma semana para iniciar a sua ação macabra.
 
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O telefone tocou, o homem correu pra atender e suas esperanças se confirmaram ao ouvir a outra voz após se apresentar com o seu alô:  -- Boa tarde, Antônio falando.

-- Boa tarde meu caro, aqui é a Cris que gostou do seu bilhetinho naquele restaurante na semana passada. Anunciou-se Cris, falando de um telefone público para não deixar rastros.

-- Puxa! Que legal! Pelo tempo decorrido, pensei que o recado tivesse ido pra lata do lixo.

-- É que você mexeu comigo e não queria me envolver. Tenho que agir com cuidados...

-- Mas com todos os seus cuidados, estou feliz por ter ligado. Gostei de você assim que lhe avistei.

-- Achei bacana a sua forma sutil de se aproximar. Não costumo receber bilhetinhos de quem não conheço.

-- Mas podemos nos conhecer melhor. O que você acha?

-- Talvez... Podemos conversar... Respondeu Cris admirada pela forma direta e sem rodeios do rapaz. E ela gostava de homens assim, que mostravam de cara as suas intenções.
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Pronto! Assim foi dada a partida para mais um crime da "Mulher do Pênis". Cris era uma psicopata de mão cheia e uma "Serial Killer" que marcava suas mortes de forma inusitada. Mulher atraente, inteligente, perspicaz e envolvente, sempre tomava todos os cuidados para não deixar pistas. A sua gana por sangue de homens e somente de homens, foi corroborada pela sua infância destroçada por uma família sem amores e moralidade. O primeiro a sumir do mapa foi o seu pai Francisco, motivo principal para o seu ódio doentio contra os homens. Ela passou a fase de crescimento vendo Francisco sempre bêbado ofendendo e agredindo a sua mãe Cleir quase todos os dias.
Ainda menina, aos 11 anos, ela provocou a queda do pai da janela do quarto andar de um prédio vizinho, ao desgastar a corda que lhe prendia na pintura da fachada. Ele era conhecido como um faz tudo do lugar, um biscateiro pra qualquer obra e ela aproveitou a oportunidade que tanto esperava. Entrou sorrateiramente no apartamento vazio e em obras, e puiu a corda com um estilete sem ser notada. De pronto, desceu as escadas correndo para assistir a queda do homem e se satisfez ao ver da calçada no outro lado da rua, o pai se estatelar no chão todo quebrado e mortinho da silva. Foi o primeiro crime da moça que nunca foi descoberto e o caso foi encerrado como acidente de trabalho.
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A segunda vítima foi o seu tio Ênio, irmão de Francisco, que veio a ser a inspiração para a motivação e enredo de todos os seus assassinatos. E somente por ele e por causa dele, a criminosa ficou conhecida como "A MULHER DO PÊNIS". Cris foi estuprada pelo seu tio a primeira vez, quando tinha apenas cinco anos e tudo começou com as bolinações e os toques numa criança indefesa que nada entendia. Direcionava a criança para tocar em seu órgão sexual e procurava excitar a menina sem escrúpulos, beijando e lambendo suas partes íntimas.

Essa situação de abusos constantes foi avançando até ele forçar a penetração e deflorar a sobrinha quando ela tinha ainda nove anos. As dores que ela sentiu, os gritos e os choros que saíram do seu peito, nunca foram esquecidos e sempre foram alvos de vingança. Ênio a ameaçava se ela contasse os abusos pra alguém e ela, com medo, passou a suportar outras penetrações dolorosas muitas outras vezes.

Já mocinha, perto dos quinze anos, sem pai e com a mãe doente, Ênio obrigou-a a ir morar na sua casa. Ele era casado com Rosa, tinha dois filhos estudantes em semi-internato, mas, mesmo assim, encontrava oportunidades para obrigar a moça a ter relações com ele, até o dia fatídico pra aquela família. Uma tarde em que somente os dois estavam em casa e Ênio se aproveitou pela última vez.

Quando Rosa chegou a casa após o seu trabalho de empregada doméstica, não encontrou mais a garota e se exasperou com a cena que viu: O seu marido Ênio jazia completamente nu numa cama ensanguentada, com um corte profundo na garganta e o seu pênis decepado pendurado no pescoço como se fosse um colar de brilhantes. O golpe foi certeiro, bem estudado pela garota e foi desferido quando ele estava por cima dela urrando de gozo. O sujeito estrebuchou jorrando sangue pela carótida e ainda ouviu ao ser capado antes de morrer, ela dizer: -- VÁ PRO INFERNO SEU FILHO-DA-PUTA. PROCURE AGORA UMA DIABA PRA SER ESTUPRADA!

Cris foi dada como suspeita, sumiu do mapa e nunca mais foi encontrada pelos parentes e pela polícia. Mas o seu ódio por homens permaneceu pra sempre.
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Depois do crime, a menina ficou perdida, desorientada e a primeira atitude foi fugir daquilo tudo. Amealhou algumas economias que a família guardava com dificuldades, arrumou suas trouxas após um banho demorado e choroso e partiu sem destino. Não tinha amigas para lhe socorrer e sair da cidade foi a primeira ação que lhe ocorreu. A jovem foi nascida e criada naquela cidadezinha no interior de Sergipe e o seu destino foi embarcar no primeiro ônibus que encontrou na rodoviária pra Salvador, na Bahia.

Dormiu nas ruas, se prostituiu a troco de comida e teto por uma noite e foi odiando cada vez mais o animal homem. A prostituição foi uma escola pra ela, que lhe ensinou a não ter sentimentos e a colocar pedra em seu coração. Foi acolhida mais tarde por Augusta, uma mulher de programa com executivos que a conheceu na noite e que fez dela a sua companheira de casa, comida, trabalho e divisão de despesas.

Com Augusta, Cris se transformou. Já havia quatro anos que não suportava aquela vida nas ruas, deitando-se com pés-rapados a troco de merrecas. E era nesses momentos tristes e nojentos, que ela voltava àquela cena macabra com o infeliz do seu tio Ênio. Mas, mesmo assim, após essas ojerizas, Cris não havia cometido mais a sua gana. Achava que não valia a pena se incriminar com raias miúdas. Mas...

Augusta fez de Cris uma grande prostituta. Primeiro fez com que ela sempre se apresentasse como modelo para aproveitar a sua beleza de mulher gostosa e desejada. Ajudou a preparar o seu “book” com fotos sensuais para sua apresentação e começou a orientá-la para escolher homens famosos, empresários e endinheirados. Cobrar caro pelos programas, se valorizar e nunca se apaixonar. Dizia ela pra Cris: -- Nunca se mostre fácil porque os homens ficam doidos quando encontram dificuldades em seus anseios. Não saia com eles na primeira vez e procure aumentar as ofertas deles sem mostrar interesse. E quando chegar aonde você quer, dê o bote. Recolha a grana, coloque-a numa poupança e procure conquistar os seus bens para sair dessa vida. E repito: NÃO SE APAIXONE PARA NÃO ESTRAGAR TUDO. –- E Augusta finalizou colocando caraminholas na sua cabeça e acendendo a luz de algo quase esquecido: -- SE VOCÊ SE APAIXONAR É MELHOR MATAR OU MORRER!
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Antes de chegar ao bilhetinho de Antônio, Cris já vinha com alguns crimes na carteira. As covardias e maldades de seu tio Ênio nunca saíram da sua mente e sempre eram relembradas quando se entregava àqueles homens por dinheiro. Ela ficou com um trauma terrível daqueles assédios e geralmente não conseguia chegar aos orgasmos. Ficava travada na hora da penetração, sentia dores, mas aprendeu com outras profissionais do sexo, que deveria fingir prazeres com suspiros e gritinhos para agradar os clientes.

Cris, por causa de cada crime que cometia, passou a ter uma vida de nômade. Pra fugir da polícia e investigações, ela ia de uma cidade à outra constantemente em estados diferentes. Saiu de Sergipe após a morte do tio, esteve na Bahia logo após e ensangüentou gente também em Pernambuco, Ceará, São Paulo e estava prestes a inaugurar um crime no Rio de Janeiro.
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Na Bahia, nas periferias de Salvador, ela deixou a sua marca num morador de rua, que a imobilizou, forçou o sexo e a estuprou embaixo de um viaduto. O cara estava drogado, cheio de cachaça e em sono profundo após a violência, que nem sentiu a sua cabeça ser esmagada por um paralelepípedo arremessado por Cris. O infeliz nem chegou a dar um ai, nem mesmo quando ela deixou cravado entre suas virilhas, um espeto de churrasco bem pontiagudo. Como sempre, ela fugiu naquela madrugada e desapareceu do lugar.
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Em Recife, Pernambuco, já com 19 anos e experiente na prostituição, fazia “strip-tease” em casas noturnas e ganhava a sua vida para se manter, até conhecer um sujeito que decidiu ser seu cafetão. Deitou-se com ele a primeira vez e a sua vida virou um inferno. Começou a agredi-la e exigir comissão de seus programas. Resultado: foi encontrado morto em seu barraco, com a barriga aberta por uma peixeira e o seu pênis decepado enfiado em sua boca. Todos os freqüentadores da casa, não tiveram dúvidas em apontar Cris como a assassina. Mas também ela evaporou-se.
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Em Fortaleza, no Ceará, a vítima foi um policial militar que a prendeu por culpa do baixo meretrício. Ela se preocupou pelo medo de descobrirem os seus crimes e pegar uma cana. Mas a sua beleza a ajudou. O mal policial no meio do caminho prometeu deixá-la livre em troca de sexo. Ela concordou de imediato e os dois foram parar num quarto de motel após ele ter cumprido o tempo do serviço naquele dia. Ela não gostou das grosserias do cara, se sujeitou às suas fantasias, obrigou-a a todo tipo de sexo e não acordou mais. Na manhã do dia seguinte, a polícia e a perícia fecharam o estabelecimento e passaram a investigar o crime. O policial foi morto com embolia provocada por seringa de injeção jogando ar na sua carótida. Ao lado do corpo, um pênis decepado começou a se juntar a outros crimes com a mesma cena. E foi a partir daí, que seus crimes ficaram famosos como as mortes da “MULHER DO PÊNIS”. Como sempre, Cris desapareceu, ainda mais por tratar-se da morte de um policial.
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Em São Paulo, a sua vida pregressa tomou outro sentido ao conhecer Augusta. Já enturmada com a nova amiga, virou garota de programa da alta sociedade e modelo fotográfico. Ganhou bons presentes de milionários, viajou com empresários para o exterior, mas não deixou de deixar sua marca de crimes em Londres e Paris. Tirou passaportes e dinheiro não lhe fez mais falta até sair das barras da saia de Augusta e tratar da sua vida sozinha.

Tratar de seus crimes que agoniavam a sua mente e que a sua doença não permitia parar. Ela não dependia de mais ninguém, não transava mais por grana, mas a sua psicopatia não a deixava em paz. Era como se fosse o último prato de comida da sua vida. Ela precisava matar, matar e matar. E o bilhetinho de Antônio foi a sua senha.
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O papo com Antônio continuou, ele a convidou pra conhecer sua mansão no Recreio dos Bandeirantes (zona nobre na parte oeste da cidade) no final de semana e ela retrucou que se tivesse que ser teria que ser na sexta-feira daquele dia. Alegou que era uma mulher casada e que precisava aproveitar uma viagem do marido.

Antônio exultou e se excitou de imediato. Cris estava carente de sexo e precisava colocar seus orgasmos pra fora, algo que acontecia somente algumas vezes com homens competentes. Ela nem tinha certeza de ver estrelas com Antônio, mas iria fazer de tudo pra gozar demais antes de matá-lo.

Cris recusou a carona do rapaz e resolveu encontrá-lo dirigindo o seu próprio carro. Como sempre, era cuidadosa pra não deixar rastros. Ao tocar a campainha, ela portava a sua bolsa com os apetrechos necessários para a sua empreitada, contendo luvas, capa impermeável, agulhas, seringas, peruca loura e soníferos em comprimidos para apagar o rapaz.

Cris iluminou o rapaz de imediato assim que ela adentrou na casa. Cumprimentaram-se, se abraçaram e ele ofereceu um drinque na sala, pedindo pra ela ficar à vontade. Seus pais estavam na Europa e ele ficou só por conta do seu trabalho. Conversaram, falaram de suas vidas com mentiras e verdades e ele levou-a até a piscina.

Cris era uma mulher insaciável por suas dificuldades com orgasmos. Ela não parava na transa, era intensa e não tinha frescuras. Após alguns apertos, toques e beijos, Antônio tirou a sua roupa, ficou nu e se excitou ao vê-la se despir e mostrar um corpo perfeito, venenoso e cheio de curvas salientes querendo sexo.

A noite foi de estrelas para os dois amantes. Cris adorou a experiência do rapaz que a fez gozar várias vezes, tirando-a de um atraso longo. Entregou-se em todos os lados e de todas as maneiras e deixou o gostosão relaxado, esgotado e sem ação.

Ela adorou o rapaz e chegou a ficar em dúvida sobre o seu plano. Pensou: Será que fiquei apaixonada? Lembrou-se então das palavras de Augusta de “MATAR OU MORRER” e foi nessa que Antônio se estrepou.

Uma semana depois, Antônio já em decomposição, foi encontrado despido na beira da piscina com o pênis boiando nas águas. Seu corpo foi periciado e descoberto uma picada de agulha em sua garganta, com vestígios de soníferos no sangue.

Da assassina ninguém sabe e ninguém viu e nos jornais do dia seguinte a notícia foi destaque relembrando crimes passados: “A MULHER DO PÊNIS VOLTOU”. “O MISTÉRIO CONTINUA”.
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N.A.: Este texto trata-se apenas de uma ficção, fruto imaginário do autor, não tendo nenhuma relação com a realidade e fatos verídicos. E se algo for correlacionado com as situações e fatos, terá sido mera coincidência.
Sem quaisquer participações na história, os nomes de personagens aqui expostos, é uma homenagem do autor aos seguintes escritores e poetas desta Recanto: 
CRISTINA GASPAR (Cris), ANTÔNIO DE SOUZA, MARIA AUGUSTA DA SILVA CALIARI, FRANCISCO LUIZ MENDES, ROSA ALVES, CLEIR E LUCIÊNIO LINDOSO (Ênio).
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